segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

VW Black Gol: o “lado negro” comedido

Aceleramos a série de 800 unidades que tem apelo de imagem, mas peca na mecânica
Série especial da Volkswagen com o nome Black normalmente deixa a gente animado. Foi assim, por exemplo, com o Golf Black Edition, em 2009. Afinal, além do visual nervoso, o Golf “preto” vinha com motor 2.0. Dessa vez, porém, as coisas não são bem assim. A montadora acabou de lançar a série limitada Black Gol. O visual esportivo está lá! Mas o modelo, que custa a partir de R$ 34.320, foi criado sobre a versão básica, equipada com o velho motor 1.0 8V flex. É uma forma de manter viva a atenção sobre o hatch, que no primeiro semestre de 2012 deve passar por uma reestilização. O modelo mais vendido do país vai ganhar visual dianteiro parecido com o do Fox.
Na prática, o Black Gol é esteticamente viril. Suas rodas de liga leve aro 14 na cor grafite (e calçadas com pneus 185/65) encantam os olhos. Atrás, as lanternas escurecidas também ressaltam, combinadas à carroceria preta e ao aerofólio integrado ao teto, com leds das luzes de freio embutidos. Em resumo, o visual “sombrio” impressiona. Mas será o Black Gol quente ao volante? Quando uma das 800 unidades limitadas da série chegou à garagem de Autoesporte, essa pergunta me veio à cabeça. Mas a verdade é que eu já sabia a resposta: não. O motor 1.0 flex e seus 72/76 cv de potência (gasolina/álcool) aos 5.250 rpm não seriam suficientes para muita diversão. Tampouco o torque (9,7 e 10,6 kgfm, respectivamente), liberado sempre aos 3.850 giros.
Interior é o pedaço mais sedutor Mesmo sabendo que o Black Gol não teria tanto apetite, entrei na cabine curioso. Isso porque o acabamento preto, especialmente no teto, costuma mudar as sensações a bordo. E não deu outra: apesar de simplista, o Black Gol transmite impressão de maior requinte. Os detalhes prateados no painel e o cluster de luz no teto também reforçam esse “feeling”. Da mesma forma, os bancos também chamam a atenção, com tecido estilizado e a inscrição Black Gol bordada nos encostos. As espumas são muito duras, e os assentos, estreitos, apesar dos apoios laterais eficientes. Tudo ia muito bem, não fosse um detalhe crucial (que confirmou a falta de um motor mais potente). Lá estava o volante nada ergonômico e insosso do Gol de entrada, uma peça contraditória.
Então veio a certeza de que a Volkswagen se equivocou ao desenvolver uma versão com aquele volante e o motor 1.0 flex. Com um nome desses, o Black Gol merecia bem mais. Como não poderia esperar muito do desempenho, saí com o hatch rumo ao Rio de Janeiro de olho no que ele poderia oferecer. Ou seja, restava apostar na economia de combustível. Palmas ao equilíbrio e ao consumo Como toda série especial, o Black Gol vem de fábrica com alguns equipamentos considerados essenciais hoje em dia. Um deles é a direção hidráulica, outro o sistema de som com Bluetooth e entradas USB e cartão SD – para encarar os quase 1.000 km entre ida e volta, eu precisava de boa música! Outro item interessante é a chave do tipo canivete – pena a abertura elétrica da tampa do porta-malas só poder ser feita a partir dela.
Som ligado, tanque cheio e hodômetro zerado, parti da capital paulista em direção à rodovia Presidente Dutra. Eu já havia dirigido o novo Gol (G5) outras vezes, mas novamente o equilíbrio dinâmico me encantou. Sua base estrutural, adaptada do Polo, tem uma rigidez acertada, que transmite segurança. A suspensão reforça essa postura mais firme sobre o asfalto. O Gol transmite solidez. O problema é que o motor não acompanha essa capacidade e nossos números confirmam. Para arrancar de zero a 100 km/h, foram necessários 17,2 segundos, e para retomar de 60 a 100 km/h, longos 16 segundos (4ª marcha). Outra referência é a máxima de 152,2 km/h. Diante dos resultados, o consumo é um alento que se converte na principal qualidade do Black Gol: média combinada de 12,1 km/l (etanol, entre cidade e estrada).
Porta-malas razoável comporta 285 litros E vaias ao preço... Confesso que, se não tivesse pisado tão fundo no pedal do acelerador, eu provavelmente teria “queimado” somente um tanque (meio para ir, meio para voltar). Mas a estrada estava vazia, e o rock’n’roll de elevado nível que saía dos alto-falantes me estimulava a abusar um pouco mais do carrinho. Quando cheguei, estava satisfeito (ainda que os bancos muito duros tivessem maltratado bastante minha coluna cervical!). No fim, o Black Gol se mostrou um carro surpreendente, preciso nos movimentos do volante, no equilíbrio em curvas e retas e no acabamento escuro. Contudo, fui pego de surpresa no “último ato”. Liguei para a Volkswagen para saber dos preços e, da forma como chegou (com ar-condicionado, ajustes de altura e profundidade do volante, sensor de estacionamento, airbags frontais e freios com ABS), seu preço vai a salgados R$ 42.640.
A montadora explica que, na verdade, as unidades à venda nas lojas não são tão bem equipadas – com tudo que é possível instalar, como na unidade em testes. Os próprios concessionários encomendam um pacote mais básico (com ar e os ajustes do volante). Assim, a série custa próxima de R$ 37 mil. Só que o Black Gol é equipado com o motor 1.0. E, dessa forma, toda a “aura” sugestivamente esportiva fica apenas na imagem.

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